quarta-feira, 1 de julho de 2009

matéria na folha de londrina



CLIPPING_HARUO OHARA (PAUSA PARA A NEBLINA)
FOLHA DE LONDRINA 01/07/2009

http://www.bonde.com.br/folha/folha.php?id_folha=2-1--9-20090701
http://www.bonde.com.br/folha/folha.php?id_folha=2-1--10-20090701

'Haruo Ohara' completa Trilogia do Esquecimento
Curta-metragem, que vai ser rodado em Londrina na semana que vem, aborda a obra do maior fotógrafo da cidade

Adriana Ito
Reportagem Local


Os anos 1950 em Londrina vão ganhar um novo registro. Depois de retratar o poeta japonês Satori Uso e o músico Booker Pittman (e suas relações com a cidade nessa década), o cineasta Rodrigo Grota agora vai filmar ''Haruo Ohara (Pausa para a Neblina)'', concluindo a sua Trilogia do Esquecimento. O filme é uma produção do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina (Kinoarte) com patrocínio do Ministério da Cultura.



Fazendo documentários ficcionais sobre personagens que vieram de longe, Grota (ele mesmo um forasteiro que veio de Marília estudar jornalismo) tem feito um importante resgate de um passado recente da cidade - e conquistado vários prêmios com esses curtas. Mas, mais do que chamar a atenção sobre a produção cinematográfica londrinense, a trilogia de Grota (mesmo que ficcionalmente) registra histórias que de outra forma o tempo trataria de apagar, em uma cidade que ainda precisa aprender a preservar sua memória.

''A trilogia ajuda a criar uma memória afetiva nos londrinenses sobre essa época, contribuindo para uma relação mais íntima e concreta com o imaginário e a própria história'', comenta o diretor, lembrando que, embora Londrina tenha tido a sorte de ser muito filmada e fotografada desde seu início, esse arquivo não tem sido devidamente valorizado.



O terceiro curta vai dialogar com o universo criativo do pioneiro e fotógrafo que habitou o primeiro lote de terras vendido pela Companhia de Terras do Norte do Paraná. Reconhecidamente um grande fotógrafo, Haruo Ohara (1909-1999) acumulou 20 mil negativos em 50 anos, com seu minucioso processo de composição da imagem. ''Haruo é certamente o maior artista visual da história de Londrina e um dos grandes fotógrafos do País'', opina Grota.

Assim como fez nos outros curtas da trilogia, o cineasta deve criar um personagem ficcional sobre Ohara, com foco em sua linguagem e suas imagens, e quando ainda morava na Chácara Arara (hoje Jardim Santos Dumont). As cenas serão rodadas na semana que vem em Londrina e região.

Manter a mesma linha melancólica dos outros dois filmes é um desafio, já que o personagem da vez sempre é lembrado por seu lado luminoso. Satori queria desaparecer. Booker tinha um lado autodestrutivo. E Haruo? ''Haruo tem um universo silencioso, e a dualidade das luzes do Ocidente e as sombras do Oriente presente em suas imagens'', avalia o cineasta.

Para recriar tudo isso, Grota pôde contar com um extenso arquivo, incluindo desde livros doados à Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná e objetos do Museu Histórico ao material que está sob cuidados do Instituto Moreira Salles. Além disso, quatro dos nove filhos de Ohara vão participar das filmagens. Já para a trilha sonora, o diretor estuda usar a música eletroacústica de Guto Caminhoto, criada a partir de sons rurais.

Haverá espaço ainda para uma aparição de Satori Uso, o poeta fantástico retratado no primeiro curta. Satori já apareceu ao lado de Booker no segundo filme, e dentro dessas inter-relações da trilogia, uma curiosidade: o historiador Rogério Ivano, que interpreta Satori Uso, é co-autor (junto com o escritor e colunista da FOLHA Marcos Losnak) da biografia de Haruo Ohara, intitulada ''Lavrador de Imagens''.

O curta deve estrear em 1 de novembro, no Teatro Ouro Verde, dentro da Mostra de Cinema da Kinoarte. ''Quero estreá-lo nessa data porque no dia 8 de novembro Haruo completaria 100 anos'', justifica Grota. Antes, em agosto, o cineasta deve lançar ''Maria Angélica'', projeto iniciado por Francelino França, que morreu antes de finalizar seu filme. E, finda a trilogia, Grota já tem planos para seu primeiro longa. ''O filme deve se chamar 'Tango, chuva e silêncio'. Vai ser em outra linha, colorido, um road movie'', adianta.

Semelhanças determinaram escolha de ator



Para selecionar o elenco, que inclui nove crianças com idades entre 2 e 15 anos (representando os filhos de Ohara), a equipe de produção do filme fez plantão na Exposição da Associação Cultural e Esportiva de Londrina (Acel) durante três dias.

Marco Hisanuma, o ator que vai interpretar Haruo Ohara, foi descoberto no estacionamento, quando os produtores já iam embora. Embora tivesse pensado em preencher uma ficha para fazer uma ponta no filme, ele revela que tinha desistido da ideia, até ser abordado. Detalhe: Hisanuma, que trabalha em uma empresa de software e é professor universitário, estava com uma máquina fotográfica no pescoço.

As semelhanças entre o personagem e o ator vão além do físico e do gosto pela fotografia. Hisanuma tem 43 anos (o filme vai retratar Haruo aos 42), e, se Ohara corajosamente desfez um miai (casamento arranjado), Hisanuma é o único da família a se casar com uma não descendente de japoneses. O ator também viveu parte de sua vida na zona rural (até os 8 anos). O temperamento calmo e o jeito simpático também remetem à personalidade do fotógrafo.

Trabalhando em uma área completamente distinta e com uma única experiência no cinema, como figurante no longa Gaijin 2, de Tizuka Yamazaki, Hisanuma se mostra feliz com a oportunidade que recebeu, mas também preocupado em fazer um bom trabalho. A reportagem acompanhou um teste com as câmeras, em que o protagonista caminhava com uma projeção ao fundo, e o viu atuar com naturalidade. ''Estou adorando tudo isso, e bastante ansioso. Não sei até que ponto vou conseguir atingir os objetivos do diretor'', comenta Hisanuma, que já tinha ouvido falar e conhecia algumas fotos de Ohara. (A.I.)

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